Pelo presente MANIFESTO, a Associação dos Mágicos do Rio Grande do Sul (AMAR), que desde sua constituição promove e incentiva a educação mágica e a formação artística veiculada com seriedade por meio de cursos, publicações e plataformas digitais especializadas ou projetos de relevância cultural ou comunitária, como forma de inserir a arte mágica entre as demais manifestações artísticas e culturais, vem a público manifestar POSIÇÃO INSTITUCIONAL CONTRÁRIA À REVELAÇÃO INDISCRIMINADA DE SEGREDOS MÁGICOS, destinada à captação de audiência ou seguidores, monetização e outras formas de divulgação em larga escala. Este manifesto se apoia nos seguintes POSTULADOS:
Todas as artes baseiam-se no ato de enganar o público, produzindo imagens e situações ficcionais geradoras de emoções, mas a mágica é a única que depende do segredo para atingir seus fins, pois é a arte de gerar a emoção do mistério por meio de ilusões, o que só é possível se o público desconhece os métodos secretos empregados. Toda a maravilhosa teoria de Arturo de Ascanio, somada a tantos mestres do pensamento mágico, volta-se à proteção do segredo, pois dele depende o efeito mágico e emocional, o que reforça a necessidade de sua preservação.
Por milhares de anos, a arte mágica acumulou segredos que formam hoje um patrimônio a ser preservado, a exemplo dos demais avanços culturais da humanidade. Porém, diferentemente de outras conquistas no plano das artes e das ciências, o segredo mágico se preserva ao ser guardado. A evolução estética da arte mágica não implica a sua negação ética, ou seja, as novas formas de apresentação mágica não mudam o paradigma ético essencial de guardar segredo, pois este ainda hoje condiciona a concepção estéticada mágica, já que sem ele não existe a beleza do assombro propugnada por René Lavand.
Enquanto a performance é um valor extrínseco da mágica como manifestação artística, por retratar a individualidade da expressão criativa, pertencendo ao artista e, de certo modo, ao seu público, o segredo é um valor intrínseco, pertencente a esse ramo do conhecimento humano, pois o objetivo principal de um mágico, do ponto de vista técnico, é enganar a seu público, ocultando-lhe o segredo (Henning Nelms). Daí ser descabida a revelação, pois, sendo o segredo um valor em si mesmo, aquele que o revela subtrai valor à arte.
Como toda produção intelectual, o segredo pertence ao seu criador ou à coletividade que dele é autorizada a usufruir por disposições legais, contratuais ou costumeiras. Assim, quem não cria um método secreto não tem direito absoluto sobre ele, o que não é uma afirmação jurídica, mas ética, pois esse postulado é como um imperativo categórico do filósofo Immanuel Kant, o qual afirmava que é necessário tomar decisões como um ato moral, ou seja, sem agredir ou afetar outras pessoas. Assim, quem revela indevidamente um segredo, atenta contra a ética, pois faz uso indevido de algo que não lhe pertence com exclusividade, afetando outras pessoas.
A revelação causa prejuízos à arte, a outros artistas e ao público. Os artistas ficam expostos e fragilizados e suas apresentações se tornam obsoletas; a arte mágica tem seu patrimônio intelectual dilapidado, pois a revelação massificada não tem como selecionar apenas pessoas interessadas em aprender e valorizar a arte mágica; o público é privado da emoção do mistério, pois o conhecimento do segredo impede o triunfo do cavalo alado da imaginação sobre o cavalo lógico da razão (Juan Tamariz).
A revelação de segredos de forma indiscriminada reduz a grandeza da arte mágica a um simples método, transmitindo a errônea informação de que para ser mágico basta saber como se faz, ao invés de advertir para todo o complexo de atributos, conhecimentos, aptidões e esforços físicos e mentais que constituem o “real segredo da mágica”, segundo Nevil Maskelyne.
Historicamente, o papel do mágico é ocultar, ao invés de revelar, pois desde a origem etimológica da palavra MAGIA, oriunda dos sacerdotes persas MAGI, os mágicos são detentores de conhecimento oculto, que usaram de formas distintas no decorrer dos séculos, chegando à “era pós-Robert-Houdin” com a missão de desempenhar o papel de mágicos, usando os segredos para fins artísticos e recreativos. Portanto, aquele que abdica do papel de guardar segredos incorre numa medíocre contradição artístico-existencial e não pode ser considerado um autêntico mágico, diante do paradigma modelado por grandes artistas, do passado e do presente, cujas carreiras se pautam pela ilusão e não pela revelação.
A AMAR apoia as iniciativas de caráter educativo destinadas a despertar o interesse de principiantes na arte mágica, mas não manterá em seu quadro associativo e não fará qualquer contratação para eventos de pessoas que realizem ou apoiem a revelação de segredos profissionais, princípios e técnicas avançadas, fora dos casos de conferências e cursos de arte mágica, em desacordo com o presente manifesto.
O presente manifesto foi aprovado em reunião de Diretoria, com a presença dos diretores DAVID MEDINA DA SILVA (Presidente) DANILO PIMENTEL (Vice-Presidente), NEWVANI CIROLINI CORREA (1º Secretário), ALEX PRIMO (2º Secretário), ADRIANO VALDUGA (1º Tesoureiro) e JOSUEL VALLERIUS (2º Tesoureiro), realizada em PORTO ALEGRE, RS, BRASIL, dia 07 de julho de 2020.
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